sexta-feira, 22 de novembro de 2013

PEQUENO PÓNEI, MEU PEQUENO PÓNEI

A catequese era sempre ao sábado de manhã. A catequista São e a catequista Gusta esperavam sempre por nós à porta daquela capela pequenina, com uma tília enorme mesmo em frente à porta principal, que fora plantada pelo meu avô há muitos anos. Nos poucos metros quadrados daquela capela, podíamos ouvir clara e cristalinamente a voz daquelas senhoras que tinham dedicado a vida a Deus, nunca casando, nunca tendo filhos, nunca passando de uma vida de dedicação extrema às pessoas, principalmente às pessoas da minha aldeia. E depois existiam as crianças, como eu, de catequismo na mão, a jogar às escondidinhas à volta da capela; a jogar ao “mata”; ao “lencinho vai na mão” e à macaca.
Na catequese, também apareciam duas meninas que vivam no Porto, mas uma vez que o pai era dali, fazia questão que a Joana e a Susana fossem educadas pela São e pela Gusta. E elas traziam sempre as mais recentes novidades das folhinhas de cheiro. Sabem aquelas folhinhas de papel que cheiravam bem? Pois, elas tinham muitas, e diferentes. E era com elas que as meninas da aldeia, como eu, fazíamos as nossas trocas.
Até aqui tudo bem. Eu adorava a catequese. Adorava as catequistas. Adora os temas do catequismo. Era muito interessada e participativa. Todos os sábados (segundo a São, todos mesmo) eu perguntava o nome dos Santos. E quando era para cantar, eu cantava bem alto. E quando era para ler, o meu braço estava sempre no ar. Mas…
Mas ao sábado de manhã dava o My Little Poney na televisão. E, em 1985, numa aldeia meio perdida no vale de uma serra com o nome de Flores, não havia vídeos. Ou via naquela hora, ou nunca mais via. E aqueles póneis lindos e tão coloridas davam as suas cavalgadas exactamente na hora que eu tinha de dar à sola para a catequese. Chorava, dizia que não queria ir, teimava que queria ficar em casa. Mas a minha mãe nunca hesitou nem nunca cedeu a estas choraminguices. Dizia sempre, numa voz segura e imperativa: “Já à minha frente”. E eu respeitava, claro que respeitava. Catequismo na mão, lágrimas limpas com a ponta da camisola e voz já pronta e afinada para chamar pela amiga, a Rosinha.
E depois passava tudo. E esquecia os póneis e a televisão. E o que eu queria mesmo era saber o nome dos Santos e perceber as histórias de Jerusalém. E assustar-me sempre que a catequista Gusta falava do Heródes. E ficar com os olhitos em lágrimas quando a catequista São falava daquele quadro, pendurado naquela parede de cal já mais amarela que branca , e que mostrava Jesus a ser pregado na cruz.
Depois da catequese, ainda íamos visitar os velhinhos e os doentes da aldeia. E chegava a casa à hora de almoço.
No Inverno, aquecia as mãos na lareira que a minha mãe acendia bem pela manhãzinha. No Verão, almoçávamos debaixo de um grande castanheiro, com o som dos grilos como música de fundo.

Agora que penso nesses sábados de manhã, para além de os sentir de uma forma bastante nostálgica, também penso que ainda bem que a minha mãe me obrigou a ir “à frente dela”.
Porque em vez de ficar em frente à televisão, pude eu própria construir as minhas histórias. Pude brincar, sentir, aprender, partilhar, ajudar e, sobretudo, ser uma verdadeira criança.

O sábado continua a ser o meu dia preferido. E é já amanhã!

3 comentários:

Taras e Manias disse...

nunca andei na cataquese

Sonia
Taras e Manias

Raquel Caldevilla disse...

Que história bonita :)

Santi disse...

a minha catequese era ao sábado e também de manhã! adorei :)
santiroyalhome.blogspot.com
Santi