segunda-feira, 28 de outubro de 2013

NUNCA SE ESCREVE PARA SI MESMO

Segundo Jean-Paul Sartre “nunca se escreve para si mesmo (…) seria o pior fracasso; ao projectar as emoções no papel, a custo se conseguiria dar-lhes um prolongamento langoroso. O acto criador é apenas um momento incompleto e abstracto da produção duma obra; se o autor existisse sozinho, poderia escrever tanto quanto quisesse; nem a obra nem o objecto veriam o dia, e seria preciso que pousasse a caneta ou que desesperasse. Mas a operação de escrever implica a de ler como seu correlativo dialético, e estes dois actos conexos precisam de dois agentes distintos. É o esforço conjugado do autor e do leitor que fará surgir o objecto concreto e imaginário que é a obra do espírito. Só há arte para os outros e pelos outros.”

Sempre tive diários. Lembro-me do meu primeiro diário, devia ter uns 9 anos. Era, pois, uma criança. Foi oferecido no meu aniversário por uma tia minha, irmã mais nova da minha mãe. Tinha uma capa azul e uma menina a tocar flauta. Sempre que olhava para a capa do diário imaginava que aquela menina era eu. Se for ler agora aquilo que escrevia, acho sempre uma parvoíce pegada. Mas na altura, tudo o que escrevia fazia sentido. E, para além de ser um bom método para melhorar e aperfeiçoar a gramática, era também uma forma de desabafar os problemas (sempre os típicos) de uma criança e mais tarde adolescente.
Era sempre à noite. Religiosamente antes de dormir. Tentava manter o diário bastante actualizado. E, mesmo que não tivesse nada de novo a contar, escrevia simplesmente “querido diário, hoje foi um dia normal, sem muito a contar. E agora vou dormir. Até amanhã!”. Tratava o diário por tu. Era como se fosse um amigo confidente. A par desta tarefa vinha também a oração ao anjo da guarda (coisa que infelizmente já não faço). E depois sim, vinha o sono.
Escrevia sempre para mim. Um diário, ao contrário do blogue, é algo que escrevemos e fechamos com uma chave. Um blogue é diferente. Escrevemos mas gostamos que outras pessoas leiam.
E, mesmo aqueles que não dão importância aos comentários, gostam, assim de vez em quando, de receber alguns. É bom saber que gostam do que escrevemos.
Ao contrário do diário (se bem que eu sempre tive bastante atenção à forma como escrevia, aos erros, à criação de frases com sentido), aqui no blogue temos sempre de ter muita atenção com o que escrevemos, a forma como escrevemos e tentar (isto é importante) escrever bem e sem erros. Ao contrário do diário, esta forma de comunicação vê todos os dias a luz do dia. É todos os dias seguida. Por vocês, leitores das mais variadas partes do mundo.
Isto tudo para dizer que, é bom sim senhora escrevermos e termos um blogue, mas também é bom saber que seguem as nossas palavras e estão atentos à nossa escrita.

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